sábado, 12 de novembro de 2016

ISTO MERECE VIRAR FILME, NÃO A HISTÓRIA DE LULA OU DILMA

Mossad (Ha-Mōśād le-Mōdī`īn ū-le-Tafqīdīm Meyūhadīm - O Instituto para Inteligência e Operações Especiaishebraico: המוסד למודיעין ולתפקידים מיוחדים) é o serviço secreto do Estado de Israel, com sede em Tel Aviv.
História contada por Efraim Halevy, ex-diretor do Mossad e figura-chave no Tratado de Paz entre Israel e a Jordânia
Participei recentemente de um evento cultural na Áustria onde estava presente o advogado israelense Efraim Halevy, uma figura central na política israelense das últimas décadas. Além de dirigir o Mossad (o legendário Serviço Secreto de Inteligência de Israel) no período entre 1988 a 2002, Halevy foi diretor do Conselho de Segurança de Israel, e também embaixador de Israel junto à Comunidade Europeia. Sua rica biografia – sua participação nas negociações que levaram ao Tratado de Paz entre Israel e Jordânia foi fundamental – contrasta com a figura modesta e reservada que circulava pelo hotel. Ouvi dele a história que conto a seguir.
Na década de 1980, o Mossad foi incumbido de resgatar judeus etíopes que sofriam toda sorte de abusos e privações no Sudão por conta da ditadura islâmica. Na época, Israel não tinha relação com aquele país, e o grande número de pessoas a serem resgatadas não permitia que a ação fosse rápida. A operação exigia entradas clandestinas contínuas no território sudanês, com pistas de pouso e pontos de embarque na costa sudanesa para os aviões e navios que levariam os judeus até Israel.
Estudando a situação, Halevy e sua equipe descobriram numa região do Egito conhecida pela beleza de seus corais, a 80 quilômetros da costa do Sudão, uma antiga vila de mergulho desativada. O plano foi então elaborado. O governo israelense, usando o nome de uma empresa estrangeira, comprou o resort abandonado e o reestruturou, num tempo recorde, transformando-o num hotel cinco estrelas para amantes de mergulho.
Para resolver o sério problema local de abastecimento de água, Israel enviou para o resort equipamentos de dessanilização que passaram a servir também à comunidade. Assim, enquanto aquela área se transformava no local mais irrigado da região, o hotel se tornava uma coqueluche de verão.
Uma equipe com chefs de cozinha, patisseurs, garçons, camareiras, porteiros, instrutores de mergulho, eletricistas, jardineiros e diversos profissionais ultraqualificados (poliglotas e sem nenhum sotaque, segundo Halevy) atendiam milionários, artistas, políticos, esportistas e figuras do jet set internacional que se hospedavam ali para ver de perto os corais mais lindos do mundo.
Ninguém jamais desconfiou que todo aquele staff hoteleiro fazia parte do Mossad. Com passaportes falsos, eles tinham jornada dupla: de dia serviam os turistas e ao cair da noite cruzavam a fronteira do Sudão em caminhões camuflados, sabendo que se fossem pegos jamais retornariam para casa.
A operação durou quatro anos. Noite após noite, dezenas de crianças, jovens, idosos, homens e mulheres eram resgatados e levados até aviões ou navios que os esperavam em pistas e pontos de embarque improvisados.
Um dia, Halevy recebeu a informação de que a operação havia sido descoberta e que seu pessoal tinha somente quatro horas de estadia segura no resort. Foi o tempo necessário para que Israel enviasse as aeronaves para o local. Nessa noite, todos os profissionais que trabalharam na operação voltaram para casa. Os equipamentos do resort foram abandonados. Mas o saldo final foi um sucesso: 12 mil judeus etíopes foram resgatados e puderam recomeçar uma nova vida em Israel.
Quando é que alguém vai contar essa história para o Spielberg?
Patrícia Melo é escritora

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